segunda-feira, 3 de novembro de 2014


Fascinante esta viagem pelo trabalho de recolha da música tradicional portuguesa realizado pelo etnomusicólogo Michel Giacometti, proposta pelo geógrafo Luís Baltazar.
Giacometti interessou-se pela música popular portuguesa após visitar o Museu do Homem em Paris, mais tarde veio viver para Portugal e durante o terceiro quartel do séc. XX trabalhou abundantemente na recolha de músicas tradicionais que o povo cantava no seu quotidiano, desse fabuloso trabalho nasceu o programa da RTP “Povo que Canta”.
O referido mapa, realizado com base nos vídeos disponíveis do trabalho de Michel Giacometti e com recurso à aplicação Story Map da ESRI, permitiu conferir à obra do etnomusicólogo uma dimensão geográfica perfeitamente inovadora. A partir do mesmo é possível efetuar uma viagem virtual de quase 9 horas divididas em 62 fragmentos referenciados geograficamente ao local onde foram originalmente recolhidos.
Este trabalho permite, da forma que apenas um mapa possibilita, relacionar espacialmente os diversos fragmentos, permitindo abordagens regionais e locais, bem como avaliar o posicionamento relativo das recolhas, assim como a distância absoluta entre as mesmas, pela primeira vez é possível ver o valioso trabalho de Giacometti projetado no território Português.
Esta viagem leva-nos desde a aldeia transmontana de Rio de Onor até ao mar algarvio em Portimão, transportando-nos para uma realidade que já não existe, aqui cabem inteiramente os cantos de trabalho que a mecanização e o progresso “esmagaram”, trabalhos duros realizados por uma população pobre e maioritariamente analfabeta, mas também ancestrais e tradicionais romarias que aos poucos vão perdendo as suas raízes e se vão massificando ao sabor de influências modernas.
Mas não é só a música de um povo que os vídeos de Michel retratam, vão muito para além disso, constituem-se como um precioso documento para todos os que se interessam pela etnografia e pela história recente de Portugal, neles encontramos fielmente retratados, sem artificialismos de qualquer espécie, a forma de viver do povo nas aldeias, os seus utensílios de trabalho e o seu modo de vida, muitas vezes expresso nas respostas dadas ao entrevistador ou perceptível através de sorrisos tímidos mas francos.

http://goo.gl/ZXnG1m